Feliz e agradecido, neste sábado passado, com a recepção que tive da família do advogado Ennio Santos, ao lado de Edemar Annuseck, num papo de "assuntos gerais" (só futebol) e um churrasco supimpa, feito pelo sogro que veio de Caxias do Sul. No meio da conversa recebo com dedicatória e tudo o livro Histórias do Futebol contada pelo inesquecível João Saldanha. Com uma escritura leve e cheia de verve, culto, experiente, inato contador de casos, conhecedor profundo da bola e da natureza humana, vou lendo a sua narrativa instrutiva. Como não poderia ser vou ao Túnel do Tempo, lembrando alguns momentos que passei ao seu lado. Para quem não sabe, chegou a morar em Curitiba, granjeou amigos, e virou um torcedor do C.A.Paranaense. No seu bom humor mexia comigo chamando-me de capitão dos coxas, rivalidade amistosa é claro. Histórias é que não faltaram na vida do João. Aquela da Seleção Brasileira na polêmica cegueira do Pelé, As Feras do Saldanha, o recado ao Presidente Emílio Médeci sobre a convocação do Dario e passagens como técnico do seu Botafogo. Irreverente, simpático com todos, a imprensa via nele uma autoridade com sua experiência e humildade. Um dia no Maracanã, lá pelos idos de 79/80, jogavam Flamengo e Colorado. Vencia o time da Vila por 1x0, com o relógio marcando 39 minutos do 2º tempo. O jogo praticamente estava ganho. De repente entra na cabine, para minha surpresa, o Saldanha, gesticulando e dizendo que o o Colorado iria perder pelo cansaço do Perez e recuo acentuado do Jorge Nobre. Dito e feito. Em dois minutos, dois gols do galinho Zico. João gostava muito de Curitiba e quando tinha seus problemas de saúde corria para cá sempre atendido pelos médicos competentes e prediletos. Outra passagem foi em 81, no título Mundial pelo Flamengo, em Tóquio/Japão. Com tantas horas de vôo cheguei no hotel "daquele jeito" e, vira o João e diz, coxa branca não vá dormir que a barra é pesada. São 12 horas de diferença. Não deu outra, foi Saldanha com Lombardi Jr. que realizaram o programa A Turma do Bate Papo, da Rádio Clube Paranaense. O jogo foi no Olímpico entre o Grêmio e Flamengo. Gol do Nunes. Em certo momento da partida chegou a mim e disse "esse Renato é bom, tem corpo de lateral e velocidade de ponta. O tal Renato é o Gaúcho. João tinha uma problema de enfisema pulmonar. Em um determinado jogo em Viena, tomou chuva e para meu espanto, estava com páginas de jornal pelo corpo. Levei-o para o hotel já febril e fui buscar atendimento médico. O mesmo em Quito, Equador, na altitude faltou-lhe ar, e ao lado de Ronaldo Castro e Doalcey Camargo, da Rádio Tupy do Rio, levamos ao hospital onde ficou por uma semana. Não queria parar e mesmo a contragosto, foi para a Itália, na Copa do Mundo, onde adoeceu e morreu. Obrigado João pelos ensinamentos e quem o conheceu sabe muito bem aquilatar seu desempenho. Foi perseguido pela política, ferrenho comunista, e nunca teve medo de ninguém. Que bom foi lembrar de você.
Quem não conta dinheiro conta história.
2 comentários:
Grande Capitão. Eu acho que o que realmente fica marcado, são essas histórias. Eu tenho o privilégio de conviver com essas feras, e podem acreditar, quando sntam-se numa mesa pra jogar conversa fora, aparece cada história maravilhosa...
Abraços Capitão e coloca meu link aí no seu blog > jairosilvajunior.blogspot.com
Caro Capitão Hidalgo: foi maravilhoso ouvir suas histórias sobre futebol. Sem dúvida vc é um dos grandes cronistas esportivas brasileiro. Em muito me honrou a sua presença na minha humilde casa. Espero um dia ainda reunir vc e o Sicupa para um bate-papo. Será que vc me ajudaria na empreitada? Um grande abraço e PARABÉNS!
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